Uma das coisas que mais tem me chamado atenção nas redes sociais desde que voltei a participar, refere-se à maneira pela qual as pessoas vêm dando expressão à agressividade.
Notadamente nesta última semana, me impressionou a repercussão a respeito da reprovável (e por que não dizer “des-humana”) agressão dirigida contra o indefeso cachorro no supermercado.
A manifestação de um enorme contingente de pessoas demonstra uma mobilização emocional de grandes proporções diante desta ação violenta. Mas o que mais me afetou mesmo foi perceber que, para muitos, a reação e resposta agressiva direcionada ao agressor foi da mesma intensidade (ou ainda maior) daquela na qual o cachorro foi vítima.
Isto me fez pensar que agir pelo impulso representa a manifestação indiferenciada da identidade humana, situação na qual está presente o rebaixamento ou ausência da principal característica que nos torna diferente dos demais seres vivos: a “consciência”.
Dethlefsen (2007) nos apresenta a agressividade como um impulso característico da vida animal e que por si mesma, na expressão humana, não é perigosa. Nos mostra também que esta agressividade não deixaria de existir caso nos negássemos a percebê-la. Acrescenta que o fato de observá-la também não faria com que se tornasse maior ou pior.
Assim, acredito que, durante todo o tempo em que este impulso estiver oculto na parte menos iluminada de nossa personalidade (que na abordagem Analítica chamamos de sombra), estará fora do alcance de nossa “consciência” e neste caso sim se tornaria perigosa.
Sabemos o quão difícil vem sendo mantermos nossa consciência preservada e quanto vêm sendo fácil a manifestação de nossas sombras, como foi possível perceber em todo o caso referente à agressão ao cachorro no supermercado que utilizei de ilustração.
Penso ser bastante pertinente levarmos em consideração nas nossas manifestações, principalmente relacionadas às nossas afetações originárias da experiência com a violência e agressividade, uma das frases mais ilustres de Carl Gustav Jung em sua obra “A prática da Psicoterapia”:
“Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão”.
A ponderação, reflexão cuidadosa acerca de nossas respostas emocionais diante de todas as situações que nos mobiliza, me parece ser caminho promissor em busca de um destino no qual o respeito e a dignidade humana prevaleça, bem como da construção da “consciência”.
Leonardo Milan, Psicólogo e Especialista em Psicologia Clínica (CRP 06/31.748)
07/12/2018.